Mountain bike: ciclista de final de semana pode usar as mesmas peças de bicicleta que profissionais?

O ciclismo no Brasil possui uma característica bastante particular: o ciclista entusiasta – aquele de final de semana, que não pedala por performance – quer investir em peças e configurações na bicicleta similares ou até iguais aos atletas profissionais. Se esse é o seu caso, convidamos você a uma reflexão.

Será que as peças que os atletas de alto rendimento usam são adequadas para o seu perfil de lazer e curtição?

Para entender melhor essa relação, conversamos com Raiza Goulão, atual campeã brasileira de XCO na categoria Elite, e com Lázaro Moreira, tricampeão brasileiro de XCO na Juvenil.

Busque referências mas saiba escolher de acordo com sua proposta

É claro que é sempre importante buscarmos referências de personagens de uma determinada área para nos inspirar. Mas, no caso da escolha de uma bike ou um componente, não basta apenas copiar o que os ciclistas profissionais estão usando.

Antes de tudo é preciso fazer perguntas a você. Qual o nível de exigência do seu pedal? Qual seu perfil de uso? Que terrenos você pedala normalmente? O que você espera de um pedal?

É preciso levar em conta que ciclistas profissionais, atletas de alto rendimento, têm um corpo e um treinamento que suporta deixar um pouco de lado o conforto, priorizando o baixo peso, para focar na performance e desempenho constantes. Portanto, é fundamental você saber o que esperar da sua bike. Assim a escolha vai ser mais acertada, a depender do objetivo final.

Até porque, uma bicicleta é quase como um sapato, é de acordo com o seu tamanho, perfil e objetivo. Então, comece com a escolha adequada!

Para Raiza Goulão, atual campeã brasileira e um dos principais nomes do MTB, quem é ciclista de final de semana não deve deixar de fazer um bike fit, capaz de traçar um perfil completo da bicicleta de acordo com as medidas e objetivo de cada pessoa.

“Eu, como atleta, tenho uma pegada, um fit muito mais agressivo, porque estou sempre em busca de performance, mesmo que isso diminua um pouco o meu conforto. Por isso acho que o bike fit é indispensável, pra você estar realmente conectado à sua bike, dentro do objetivo que busca, no caso lazer e diversão”, comenta.

Diversão é conforto: atenção a escolha dos componentes e peças de bicicleta

Três vezes campeão brasileiro de XCO Juvenil em edições consecutivas (2018, 2019 e 2020), Lázaro Moreira dá a dica: ciclista que busca lazer tem que priorizar conforto em cima da bike. E a escolha de componentes e peças de bicicleta adequadas a esse objetivo farão a diferença ao longo do tempo

“Um ciclista profissional geralmente usa uma mesa mais negativa, pois encaixa melhor ao biotipo e pegada. Isso vai gerar um ganho de rendimento mas um pouco de desconforto também, mas já temos uma preparação que nos permite aguentar o tranco”, explica o atleta da Squadra Oggi.

Para ele, caso esse ciclista de lazer opte por uma mesa igual a de profissionais, pode até ser que ajude a superar uma subida difícil.

“Mas isso, no longo prazo, vai gerar muito desconforto. A dica é colocar uma mesa mais positiva pra mudar a posição na bike e tornar a pedalada mais prazerosa e confortável”.

No caso da busca pelo selim ideal, ele reforça o que falamos antes: conforto.

“Eu digo que vale muito a pena investir num selim bom e confortável, ao invés daquele selim mais leve. Quem pedala de forma amadora tem que se preocupar em curtir o pedal, não precisa pensar no baixo peso ou tecnologias de ponta, até para não ter um investimento errado, gastando aquilo que não vai ter tanta utilidade”.

A opinião é compartilhada pela colega de equipe Raiza.

“O mundo da bike cresceu muito e vejo muita gente vai na onda do que tá no momento. Mas você deve escolher, antes de tudo, componentes e peças de bicicleta que atendam a sua necessidade. Eu sempre indico muito um grupo Deore ou SLX, da Shimano. Pra quem tá iniciando são perfeitos, com manutenção em conta e alta precisão, mesmo que isso signifique ter uns quilos a mais na bike como um todo”.

Preferência por marcas que tenham garantia no Brasil

Se o estilo das peças e componentes é muito diferente entre ciclistas que pedalam por diversão e atletas profissionais, a marca não deve ser deixada de lado. Praticamente todas as grandes marcas utilizadas por atletas de Elite têm produtos destinados a ciclistas amadores e iniciantes.

Por isso, se você se espelha em algum atleta como Raiza Goulão e José Gabriel, por exemplo, pode pedalar com produtos similares – mas que atendam às suas necessidades no mountain bike. Marcas como Giro, Look Cycles e Kenda, por exemplo, possuem produtos disponíveis no Brasil focados em amadores e profissionais.

Ou seja: você consegue utilizar produtos com a mesma marca utilizada pelos grandes nomes do mountain bike, mas em produtos que tenham a ver com você. Outra coisa importante: tenha certeza de que as peças e acessórios que você compra sejam de marcas distribuídas oficialmente no Brasil, especialmente por questões de garantia e peças de reposição.

E então, você já sabe qual é a sua pegada? Aproveite as dicas para se inspirar e tentar compreender melhor o seu perfil e objetivo. Longe de ser aqui uma verdade incontestável, nossa ideia é que você tenha a melhor experiência possível de acordo com sua proposta.